“Cativar” quer dizer o quê? – uma reflexão

Refletindo:

A afetividade é hoje olhada por diferentes investigadores de diferentes domínios da educação e psicologia, como basilar na relação educativa por gerar um clima favorável à construção dos conhecimentos. A afetividade pode influenciar diretamente a aprendizagem, é um elo de ligação e de confiança entre quem ensina e quem aprende.

Trinta e três anos depois da primeira aula continuo a criar um círculo de confiança na sala de aula onde todos os alunos se incluam e respeitem as diferenças e igualdades.

A afetividade, ao contrário do que se possa imaginar ou supor, intervém e influencia as construções cognitivas e motoras. Quando nos sentimos confiantes, apoiados, reconhecidos nas nossas virtudes e não apenas nos nossos defeitos, somos estimulados a contribuir com os nossos saberes e conhecimentos, e quando falo em afetividade, estou a referir-me não apenas a saber ouvir, perceber ou apoiar, estou também a falar em descer ao nível dos alunos, brincar, arrancar sorrisos, risos, no fundo vê-los felizes, e sobretudo valorizar as virtudes e não os defeitos de cada um.

Esta reflexão levou-me a pesquisar ao meu “baú de memórias” e encontrei este registo escrito que guardei do comentário de uma aluna que encontrei treze anos depois de ser sua professora. Foi um reencontro emocionante num shopping em Coimbra, disse-me que tinha sido aceite em Cambridge para fazer doutoramento em Biomecânica e apresentou-me o seu noivo e explicou-lhe:

“Todos os dias de manhã ansiava entrar na sala e aprender, mas mais do que aprender, pretendia ouvir, rir, brincar e ouvir pequenas histórias da minha professora. Era uma professor que cativava, motivava com gestos, palavras e atitudes, encorajava os alunos, ria-se com os alunos e por vezes brincava no recreio. Abono da verdade tenho a dizer que foi a professora que mais marcou o meu percurso escolar.”

 

– “Cativar” quer dizer o quê?

– É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer “criar laços” …

– Criar laços?

-Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho

perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não

precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras

raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no

mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…

– Parece-me que estou a perceber – disse o principezinho. – Sabes, há uma certa flor… tenho

a impressão que ela me cativou…

(Exupéry, 1943)

 

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