5*week – E@D – Confi(n)ar: ” Neurónios dos sentimentos” – António Damásio

A minha atenção deteve-se na leitura do artigo da jornalista Teresa Sofia Serafim , no Público (8/3/2021 – p. 26-27), no qual é feita referência à conferência do neurocientista de renome mundial António Damásio, o qual  foi um dos oradores de uma das conferências que marcou o 31.º aniversário do PÚBLICO. Sentimentos, emoções, consciência e um vírus que nos mostra que não temos uma definição bem clara de vida.

“É inevitável que vá haver consequências afetivas e intelectuais profundas deste isolamento. Tem de se resistir.”

 

Fui indagar e…

Há ainda uma explicação proferida por António Damásio na conferência da UNESCO, em 2006, em Lisboa, sob o título “Cérebro, arte e educação” em que o professor, dá relevância àquilo que ele e a sua mulher, Hanna Damásio, ambos praticantes da neurociência cognitiva, defendem: a necessidade inadiável da educação artística nas escolas como um meio de educação para a cidadania, devido às mudanças que têm ocorrido nas últimas décadas e as graves consequências para a formação dos indivíduos.

 

Embora seja um pouco longa considero importante transcrever quase na íntegra o pensamento de Damásio:

[Sobre] a separação entre cognição e a emoção, a neurociência revelou que esta

separação é inteiramente injustificada. Na verdade a mente humana e o cérebro

humano resultam de uma complexo trabalho de cooperação entre os processos

emocionais e cognitivos. Precisamos de ambos. (…) Não se pode ter uma sem a outra,

apesar delas constituírem diferentes associações de processos e capacidades, e terem

diferentes origens em termos de evolução. (…) Estas diferentes raízes na nossa biologia

são especialmente importantes. Enquanto o processamento emocional do ponto de vista

evolucionário é antigo e lento (lento na acessão de segundos ou minutos), o

processamento cognitivo é extremamente rápido e acontece em frações de segundo, na

ordem do milissegundo. Recentemente, graças ao tremendo aceleramento da nossa vida

em termos (…) dos meios de informação e de todos os média que temos à disposição

(…) crianças e adolescentes são capazes de processar informação cada vez mais

depressa. (…) Enquanto a cognição acelera implacavelmente, o nosso processamento

emocional não vai à mesma velocidade. O nosso processamento emocional tem o seu

tempo próprio, para organizar-se e para responder ao que acontece no mundo. (…)

Infelizmente, temos de vos dizer que há razões mais do que suficientes para nos

preocuparmos. A primeira que nos surge, é que o comportamento ético que constitui a

sólida base para a cidadania requer necessariamente a participação da emoção. Há

sólidas evidências que o confirmam. A razão para que isto assim seja deve-se ao facto

de que as emoções trabalham como qualificadores para as ações e para as ideias.

Temos de pôr estes dois trilhos de processamento em paralelo: um através do qual

temos ideias, pensamentos, planos para a ação, e ações reais; e o outro, através do

qual as emoções servem como qualificadores e operam como “adjetivos” para o que

está a acontecer em termos de ideias e ações. Sem estes qualificadores nós operamos de

um modo puramente racional sem termos forma de classificar, quantificar, e refletir

sobre o que está a acontecer no mundo das ideias e das ações.

E outro facto importante: pesquisas atuais indicam que a base mais sólida do

desenvolvimento moral/ ético depende, do ponto de vista da evolução, de um conjunto

de emoções sociais que existem há muito entre os humanos, provavelmente ao longo de

toda a história da humanidade, e na verdade, também estiveram presentes, de formas

mais simples, noutras espécies para além dos humanos. (…) Isto é uma sólida evidência

da conexão existente entre a emoção e a estruturação de um cidadão. (…).

Gostaríamos de advertir que uma educação confinada à ciência e à matemática

não resolveria este problema e pode realmente piorar estas questões. (…) A educação

para as artes e para as humanidades pode ser o campo da ação para o desenvolvimento

de bons cidadãos. Porquê? Por exemplo, porque as narrativas acerca de conflitos,

acerca de sofrimentos, acerca de alegrias, acerca de ambiguidades do comportamento

humano e acerca de decisões dolorosas que exigem justiça, (…) podem ser descritas

pela ciência, por certas ciências, mas não podem ser experimentadas senão pelas

artes.

Consultar em: Damásio, Antonio and Hanna Damasio. Brain, Art and Education. UNESCO Conference on

Art Eucation, Lisboa, 2006. [tradução de Maria da Assunção de Carvalho Afonso Cabrita Calé]

 

Outras leituras que fiz:

 

 

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