Pela manhãzinha, antes de preparar a minha aula síncrona da manhã, leio o meu jornal de eleição e detenho-me numa notícia sobre o Programa GAP, lançado pela Gulbenkian a semana passada.
A mentora do Programa, Íris Damião, põe enfase na leitura no trabalho que realiza com alunos a quem a pandemia veio acentuar dificuldades na escola. Uma das prioridades é ajudá-los a manter as rotinas de estudo durante o confinamento e põe ênfase na leitura. Ela relatou a sua experiência com um livro de Matt de la Peña, A Última Paragem, que integra o Plano Nacional de Leitura.
Para espicaçar a minha a curiosidade, fui pesquisar as informações das editoras e as opiniões dos peritos para verificar se seria uma boa opção para apresentar aos meus alunos de 8 anos. Fiquei rendida…quando voltar ao ensino presencial, ele fará parte do meu reportório de livros para “deliciarmo-nos” ou na sala de aula ou no recreio.
Para quem me lê e segue as minhas sugestões…aqui fica uma “espécie” de relato ( ler a SINOPSE):
Em jeito de Avó e neto passam o domingo juntos. Vão à igreja e depois apanham um autocarro que percorre a cidade. Saem na última paragem, que fica na Rua do Mercado. Vão à “sopa dos pobres”.
Pelo caminho, a criança vai questionando a avó: “Porque é que temos de esperar pelo autocarro debaixo de tanta chuva?”; “porque é que não temos um carro?”; “porque é que esta zona está sempre tão suja?”.
A avó vai-lhe respondendo com sentido positivo e convidando-o a ver o mundo com um olhar contemplativo e o mais feliz possível.
Sobre a chuva: “As árvores também têm sede.” Sobre o carro: “Para que precisamos de um carro, Alex. Temos um autocarro que anda a alta velocidade e o velho Sr. Dinis tem sempre um truque de magia para ti.” Sobre a sujidade da rua: “Por vezes, quando estás rodeado de lixo, consegues ver melhor as coisas belas.” Esta última frase foi dita enquanto apontava para o céu.
Um livro terno, comovente e solidário. Aqui se promove a partilha, valoriza-se o convívio com as pessoas que se cruzam nos nossos caminhos e procura-se suavizar as diferenças e injustiças de que uma criança se vai apercebendo à medida que cresce e descobre o mundo. Sem cinismo.
“A Última Paragem” foi editado originalmente em 2015 e ganhou vários prémios internacionais: “New York Times” Book Review Notable Children’s Book de 2015, Melhor livro Infantil de 2015 pelo “Wall Street Journal”, Medalha Newbery 2016, Livro de Honra Coretta Scott King Illustrator 2016. A Portugal, o livro chegou pela chancela Minotauro, do Grupo Almedina, que decidiu apostar recentemente no segmento infanto-juvenil.
O ilustrador Christian Robinson, com experiência nos estúdios de animação da Pixar, colaborou na realização da “Rua Sésamo” e sabe representar o movimento. Neste livro, recorre a colagens e mistura várias técnicas, conseguindo ampliar uma narrativa já de si imaginativa e sensível, convocando-nos também visualmente para o imaterial. No entanto, não deixa de nos dar um retrato das cidades de hoje. Com todas as sua cores, contradições e injustiças.
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A Última Paragem
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Texto | Matt de la Peña
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Tradução | Isabel Neves
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Ilustração | Christian Robinson
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Edição | Minotauro/Grupo Almedina
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32 págs., 10,90€
Uma belíssima história que não pode faltar nas estantes de pequenos e graúdos para que não se esqueçam de que, além daquilo que vemos e do (pouco) que possamos ter, há muito mais e mais belo e isso está em nós.
Uma lição de positivismo, empatia, solidariedade, gratidão, num texto repleto de ternura.
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