“Professores com menos stress, melhor qualidade das turmas” – Por Andrey Breen

Das muitas leituras que faço para dar suporte ao meu projeto, encontrei este artigo, que aqui apresento (a tradução não é da minha autoria) com o intuito de refletir(mos) no (nosso) trabalho de profissionais de educação tendo, sempre, como foco  o sucesso e a felicidade dos alunos. 

” (…) Os professores que mais frequentemente utilizam formas de diminuir o stress são aqueles que mais possibilidades têm de enfrentar com sucesso as exigências que se colocam à sua carreira e os que estão melhor posicionados para melhor desempenhar o seu papel de educadores, segundo revelam os resultados de um programa ministrado pela Curry School of Education da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

Os professores das escolas públicas da cidade de Nova Iorque que participaram do “Cultivating Awareness and Resiliance in Education” (CARE), um programa de desenvolvimento de mindfulness para profissionais, não apenas sentiram benefícios em relação ao seu bem-estar pessoal como também em relação à qualidade das suas turmas.

“Neste momento muitos professores não estão suficientemente bem preparados para enfrentar as exigências que se colocam ao nível socioemocional nas salas de aula, diz Patricia “Tish” Jennings, professora e coordenadora do estudo. Ao mesmo tempo que gastam muita energia cognitiva no ensino dos conteúdos, os professores estão constantemente a gerir o funcionamento da sala de aula.”

Estas condições fazem aumentar, na generalidade dos professores, a ansiedade, a depressão, a exaustão emocional, as perturbações do sono e o stress. O que diferencia os professores entre si é o seu grau de conhecimento e habilidade em aplicar as ferramentas necessárias para responder a um ambiente tão exigente do ponto de vista cognitivo e emocional.

O objetivo do programa CARE é fazer aumentar o bem-estar dos professores participantes através do fornecimento de capacidades específicas e de práticas que levem a uma melhor resposta às exigências das turmas.

Ao longo do ano escolar, 224 professores provenientes de 36 escolas públicas do ensino elementar de Nova Iorque, localizadas no Bronx e em UpperManhattan, participaram numa série de 5 sessões com a duração de seis horas cada. Entre as sessões, os professores receberam assistência individual via telefone, através de duas chamadas de 30 minutos, ao longo de duas semanas.

Do programa fazia parte: habilidade em lidar com as emoções; práticas de mindfulness/redução de stress para promover auto regulação da atenção e consciência sem juízos de valor; práticas de atenção interessada no sentido de promover empatia e compaixão.

 

“Sabemos que quando os professores estão conscientes do aumento dos seus níveis de stress num determinado momento, essa mesma consciência permite-lhes responder intencionalmente através de pequenas medidas no sentido de fazer baixar esses níveis”, diz Patricia Jennings. “Quando os professores conseguem reduzir os seus níveis de stress são então capazes de escolher qual a melhor resposta a dar perante a turma ou um aluno.”

O estudo, apresentado na conferência anual da American Educational Research Association, mostrou que o CARE tem um impacto significativamente positivo no bem-estar dos professores. O programa reduz a angústia individual e o stress associado à pressão do tempo e melhora a regulação das emoções; e promove também mindfulness.

“Os professores capazes de diminuírem o seu nível de stress estão mais habilitados a entenderem os pontos de vista dos alunos e como os seus julgamentos e preconceitos impactam na sua forma de reagir em relação aos estudantes”, diz Patricia Jennings.

Segundo a professora, melhorar os níveis de bem-estar pode ser também uma forma de combater o efeito cumulativo do stress, tantas vezes responsável pelo esgotamento e consequente abandono da profissão pelos professores. Dados atuais mostram que cerca de 50% dos novos professores abandonam a carreira nos primeiros cinco anos.

O impacto da participação no CARE ultrapassou o nível individual de cada professor. O estudo mostrou que aqueles que participaram no programa apresentaram também melhor desempenho ao nível das turmas.

Os professores participantes foram observados enquanto usavam o “Classroom Assessment Scoring System” (CLASS), um instrumento de avaliação criado por Robert Pianta, decano da Curry School, utilizado para medir o desempenho das turmas e avaliar a interação professor-aluno.

As turmas dos professores envolvidos no programa CARE foram melhor classificadas do ponto de vista do apoio emocional em comparação às outras. A dinâmica ao nível da interação na sala de aulas mostrou-se emocionalmente mais positiva  e os professores demonstraram uma maior sensibilidade relativamente às necessidades dos alunos e não tanto ao seu controlo.

Segundo alguns estudos anteriores, a melhoria de alguns itens relacionados com a prática do ensino avaliados pelo CLASS está reconhecidamente ligada à melhoria da aprendizagem dos alunos.

“O que é verdadeiramente espantoso nestes resultados é que o CARE foca-se totalmente no bem-estar e nas capacidades sóocioemocionais dos professores. O programa não fornece qualquer formação sobre formas de gerir uma sala de aula ou tão pouco indica estratégias de ensino”, realça Patricia Jennings.

Segundo a professora, este estudo é o primeiro a demonstrar que um programa baseado em mindfulness pode ter um impacto significativo, numa dimensão observável, sobre a interação de uma sala de aula.

O estudo mostrou ainda como o programa CARE impacta nos estudantes, uma vez que os alunos de turmas CARE foram avaliados como mais produtivos em relação ao grupo de controlo. Os professores CARE demonstraram melhor aproveitamento do tempo de ensino, resultando isso em estudantes mais envolvidos nas atividades de aprendizagem.

“Os resultados apontam definitivamente para que as ações baseadas em mindfulness podem ter um efeito a jusante relativamente ao ambiente geral da sala de aula e sobre os alunos”, diz Patricia Jennings.

Quanto ao seu próximo projeto, Patricia Jennings está a trabalhar no sentido de alargar o âmbito do CARE, levando o programa não apenas a mais escolas na cidade de Nova Iorque mas também a outras localidades. A professora Jennings está ainda a explorar a adaptação do CARE a populações especiais, através de um programa para educadores infantis e professores do ensino especial.

Tradução de Raul C. Gonçalves  in UVAToday | 2 de maio de 2016

 

 

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